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Quando estava grávida tive um sangramento. Imediatamente fui para a emergência do hospital. O médico fez o exame de toque e a luva que ele usava ficou toda cheia de sangue fresco e coagulado. Ele disse que eu havia perdido o bebê e eu perguntei como ele afirmava isso se ele não tinha nem escutado minha barriga.

O médico, com toda a arrogância, me falou que tinha 30 anos de profissão e sabia o que estava dizendo. Ele estava visivelmente cansado e irritado. Eu não aceitei o diagnóstico, mas mesmo assim fiquei internada.

Uma enfermeira entrou me procurando. Eu disse que não ia fazer a curetagem e ela insistiu. Logo veio uma médica e me explicou a importância da curetagem, pois o feto estava morto dentro de mim. Tornei a argumentar que ninguém tinha escutado minha barriga, ela repetiu o exame de toque e afirmou que o feto estava morto.

Falei que só ia fazer a curetagem após a ecografia. Ela ficou irritada e disse que eu não poderia sair do hospital. Saí de lá e fui direto para outro hospital realizar ecografia. O coração do bebê estava batendo normalmente e me disseram que o feto estava perfeito e tudo estava bem. Informaram também que provavelmente o que aconteceu foi o rompimento de uma veia ou vasos, nada além disso.

Daniela*

Brasília, DF

“Outro médico apareceu e pressionou minha barriga com o antebraço 'para agilizar, porque a gente quer ir tomar um café'" 

 

-Clara*

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MARCELA* 

RIO DE JANEIRO-Rj

Sofri no pós-parto. As enfermeiras abriram quatro pontos da minha cesárea e arrancaram junto com meus pelos um esparadrapo. A sutura não chegou a abrir, mas demorou um mês para cicatrizar, sangrou bastante e esguichou líquido.

Tiraram a sonda da minha vagina com tanto mau jeito que depois de 8 horas sem urinar, quando eu consegui ardeu e sangrou. Mandavam o tempo todo eu me portar e sentar direito porque tinha homem no meu quarto, ele era acompanhante de outra parturiente.

A enfermeira ia me preparar para a limpeza e me deu uma bronca por ter me mexido na cama e ter sujado tudo de sangue. Ela se ausentou na hora do banho, apesar de ela ter ajudado a parturiente que dividia o quarto comigo. No outro dia, quem me auxiliou foi outra grávida, porque a enfermeira me mandou fazer isso sozinha.

Só soube que estava tudo errado porque já tinha lido a respeito da violência obstétrica. Eu me senti impotente, porque se eu falasse algo me maltratariam mais ainda.

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Eu e algumas colegas estávamos estagiando no Centro Obstétrico e tinha uma adolescente de 15 anos que estava em trabalho de parto. A mãe dela tinha sido deixada do lado de fora, apesar de ter espaço para estar lá acompanhando. Levaram a menina para a sala de cesariana e ela foi amarrada à mesa.

A garota estava completamente nua, nem sequer colocaram uma camisola nela. Estava tudo encaminhado para ser um parto normal. A médica fez uma episiotomia na menina sem o consentimento. Não tinha motivo nenhum para isso.

Depois que o bebê saiu, ele foi levado imediatamente para fora da sala. A gente prioriza que o bebê fique junto à mãe e que o cordão pare de pulsar. Tem todo um protocolo a ser seguido e isso não aconteceu.

A pior parte veio quando a médica estava dando os pontos, a menina gritava de dor e falava que ela estava sentindo a sutura. A médica falou que foi para ela aprender a usar camisinha da próxima vez.

CAROL*

 bRASÍLIA-DF

"Toda hora vários médicos colocam o dedo na sua vagina, isso com você sentindo dores. Eu entendo, é o trabalho deles, mas é complicado para nós"

Nunca quis soro para agilizar. Cheguei na maternidade com 4 centímetros de dilatação e já foram logo enfiando o soro, sem perguntar nada. Toda hora vários médicos colocam o dedo na sua vagina, isso com você sentindo dores. Eu entendo, é o trabalho deles, mas é complicado para nós.

Por volta das 11h da manhã, eu tinha 7 centímetros de dilatação. Eu queria ir ao banheiro, eu tinha certeza disso, mas a plantonista disse “não é vontade de cocô, é de força”. Fiz o cocô na cama. A madrinha da minha filha estava lá e falou para a plantonista "ela fez cocô, pode me pegar outro lençol?". Escutamos "deixa ai" e ela saiu andando.

Às 11h40, o médico entrou e falou estava quase lá, “com a minha ajuda vai nascer”, mas eu não queria ajuda, eu queria que minha filha viesse no tempo dela.

Na sala de parto, eu não tinha mais força. A plantonista sem me informar ou perguntar se eu queria, fez o famoso "picote", sem anestesia nem nada, só foi e cortou. Eu fiquei cansada, na expulsão perdi a força e quase desmaiei três vezes.

Demorei a aceitar que sofri violência obstétrica, você não quer aceitar porque quer ter aquela ilusão de que o parto que teve foi o que sempre planejou.

É a primeira vez que falo sobre violência obstétrica. Minha família não é muito a favor do parto normal, então não falei com ninguém.

Joana*

São Paulo- SP

O médico fez um toque super violento. Falou que o bebê não ia nascer naquele dia e que eu estava em falso trabalho de parto. Passei o final de semana inteiro com dor e, quando chegou no último nível, fui ao médico no pronto socorro mesmo para fazer o ultrassom.

A médica tomou um susto e me mandou correndo para outro hospital. Falou que o bebê estava sofrendo, com pouco líquido e que os batimentos dele não estavam como antes. Tive um parto super tenso. Depois pesquisei e descobri que não precisava desse alarde todo. Do meu ponto de vista, a cesárea foi bem desnecessária pelo que eu estudei depois. Não sou médica, mas com essa situação, tive meu filho antes, com 36 semanas.

Depois disso, voltei nessa médica, ela falou que a criança estava raquítica e morrendo de fome. Disse também que se acontecesse alguma coisa com ele a culpa ia ser minha. Eu fiquei muito desesperada.  

No meu segundo parto, eu fui ao médico e falei que queria ter parto normal. Ele disse “você é doida garota, vai te arregaçar inteira, seu marido não vai gostar disso não”. Fiquei horrorizada. Meu médico viajou e fui realizar o parto com a auxiliar dele, eles atendiam juntos. Já estava exausta e com dor, acabei aceitando a cesárea. Ela teve que chamar outro médico, que no caso era o filho dela.

Ele chegou tocando uma música eletrônica super alta na sala de cirurgia e eu aflita perguntei “mas essa música não pode tirar? Estou nervosa”. Ele falou “isso porque é segunda-feira, imagina como é que eu não chego na sexta”. Continuou a música assim, sem se preocupar. Eu achei uma violência sem tamanho.

Vivian*

Brasília, DF

Respostas

O Hospital Universitário de Brasília afirma não ter conhecimento de nenhum caso de violência obstétrica. Outras unidades de saúde citadas nos relatos não responderam à reportagem e, por isso, foram preservadas.

O Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal, o Conselho Federal de Medicina e a Associação Brasileira de Obstetrícia e Ginecologia da Infância e Adolescência (SOGIA) também não responderam à equipe da redação.

Esta é uma reportagem da Agência de Notícias UniCEUB publicada em 12 de maio de 2017

Por Beatriz Castilho e Isabella Cavalcante;

Colaboraram Giovanna Pereira e Leonice Pereira

Sob supervisão de Luiz Claudio Ferreira e Katrine Boaventura


 

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